A ÚLTIMA DOR CHORADA

Hoje, ainda estou sob o efeito de tudo o que ocorreu comigo, é algo que não quero deixar passar. Estou entre caminhar pela casa, beijar os que amo e voltar ao meu quarto, me internalizar dentro dos meus sentimentos e percepções vividos neste final de semana. O que fui era, hoje sou o que sou, Joseane completa. O passado foi apagado. Um passado longe e um não tão distante.
A Joseane-menina, finalmente, pode descansar em paz. Foi compreendida, amada... perdoada. A Joseane-mulher pode agora caminhar, sem ter mais receio de não ser amada. Cresci, não na aparência, mas nos sentimentos, percepções e doações.
E nesta libertação da alma, me vejo retratada na dor de tantas outras Joseanes-meninas, que sem ainda saber o porquê, sofrem da agressão sofrida na consciência-alma.
Na ilusão de ser levada ali naquele Encontro pelo Pai para apenas aprender um pouco mais, defrontei-me com o real motivo da minha caminhada: cura da alma.
Como um cego pode guiar outros cegos? Como posso saber da dor do outro, se não enxergava a minha própria dor? Como entender reações alheias se não compreendia a dimensão das minhas verdadeiras reações.
A ponta do iceberg mostrava pré-conceito, abaixo do perceptível existia a dor não compreendida, o santuário violentado, a rejeição por quem deveria ser amada.
A dor era como um câncer, imperceptível, mas que aos poucos corrompia a alma, o corpo, a identidade. A descoberta da doença foi impactante. Doente eu? E isto doeu, mas ainda era apenas o começo, pois o diagnóstico mostrava que o mal já havia se alastrado. Só havia uma alternativa: continuar vivendo o auto-engano, mentindo a si mesma, deixando a doença explodir no tempo devido, com o fim rápido e certeiro, mas escondido dos olhos alheios, ou... se submeter ao um processo tão mais violento e dolorido para a cura e iniciar a quimioterapia.
A doença-descoberta-escondida nos dá a garantia de viver na zona de conforto, é nós-e-ela e ela-em-nós, mas a doença-descoberta-em-busca–da-cura nos desnuda, perante os outros e principalmente perante nós mesmos.
A quimioterapia do corpo faz o cabelo cair, a pele amarelar, os olhos perderem o brilho. A quimioterapia da alma faz verdades caírem, certezas amarelar, e olhos se entristecerem perante um desnudar. Mas ao contrário da quimioterapia do corpo em que há um médico responsável diagnosticando quantas sessões de cada vez o corpo pode agüentar, sem saber se depois de tudo o corpo reagirá, na quimioterapia da alma temos a Jesus, que junto a cada dose necessária ministra junto a certeza da cura, a esperança de um novo caminhar, onde verdades-verdadeiras serão restauradas, certezas serão agora centradas apenas em saber do Seu amor incondicional, deixando de existir os pré-conceitos, os pré-julgamentos, e os olhos terão não apenas a dimensão do humano mais a visão espiritual da eternidade.
A cura foi em mim instalada, o que na medicina humana poderia levar meses, aconteceu em apenas uma noite que varou a madrugada, e tudo a partir de uma pergunta sugerida por Caio: Porque estou aqui? E seguida de um pedido meu: Deus, derruba meus pré-conceitos.
Foi assim que me convertir ao verdadeiro Evangelho em 2003, quando antes a minha verdade era o espiritismo. Foi assim no Encontro das Estações, mas com uma grande diferença: não levei verdades, não criei expectativas, estava apenas obedecendo a Deus, aberta ao seu chamado, levada pelo Espírito.
E depois de curada a alma, de ser liberta do trauma-passado, chorei o último choro da dor, pois meu peito explodiu me libertando da opressão imposta pelos homens, do cabestro espiritual vivido neste últimos três anos. Tanto sofrimento em vão, tantos choros derramados no tempo do seminário por não ver o possível-possível uma vez que a realidade imposta a nós mulheres era o possível-impossível. Na época me apegava a esperança de saber que Deus-Pai não dar o querer sem que faça o realizar, quando em meio aos choros e a dor que dilacerava a alma, me fazia continuar.
Vivia na ilusão da permissão humana para utilizar os talentos dados por Deus, até que o Espírito me visitou e me levou a caminhar por um terreno totalmente contrário do que cria. Tive medo, mas confiei e segui.
Hoje entendo, não só de pronunciar mais de vivenciar o que é ser liberta do cativeiro. Tenho a consciência de ser Joseane, apenas Joseane sem títulos, sem amarras, mas amada e escolhida pelo Pai.
Chorei o último choro da dor, da libertação da castração. Duas páginas do meu passado foram viradas. Outras verdades estão sendo trabalhadas, outros choros com certezas serão chorados, senão não seria eu, assim diz minha amiga-pastora-irmã Gláucia.
Deixo apenas o vento soprar. Este final de semana Ele soprou em Brasília, amanhã só Deus o saberá.
Joseane Pires. 12/06/2007

Um comentário:

CLAY NUNES disse...

Como é gostoso ler palavras que sairam do fundo de um coração que aprendeu com a dor e sofrimento.
Até Jesus aprendeu com o sofrimento.
Ele é uma escola que nos deixa mais fortes e sábios.

Parabéns!
Deus possa as vezes nos dar momentos de vale sombrios onde o Seu Espirito nos leva a dimensões da percepção nunca imginadas por nós.
um grande beijo
Clay