eLE VIVE

Quem está acostumado a perceber erros gramaticais logo verá que o título deste artigo está iniciado com letra minúscula, e dirá: Vixi! (expressão nordestina) esqueceram de corrigir o ‘e’. Mas gostaria de tranqüilizá-los, pois, este ‘e’ minúsculo foi proposital.
Por se tratar de um texto cristão ‘e’ maiúsculo iria levar ao leitor a impressão que estaríamos fazendo referência a Jesus Cristo. Embora Jesus Cristo seja a centralidade desta mensagem, o ‘ele vive’ faz referência a uma passagem do Evangelho segundo João cap. 11 (vs. 1 até o 44) – Morte de Lázaro.
Na passagem bíblica observamos que Jesus foi avisado da doença do seu amigo Lázaro, porém, só foi ao seu encontro após 4 dias de sua morte quando seu corpo já cheirava mal. Tanto Marta quanto Maria não acreditavam que Jesus seria capaz de devolver-lhe a vida (humana), achavam que tudo havia terminado.
Não irei aqui contar a história toda (sugiro que façam ou refaçam esta leitura!), quero apenas relatar algo que o Espírito de Deus tem trabalhado em mim.
Em minha caminhada sempre relembro de algo que um pastor (ao qual amo muito e por quem tenho grande admiração!) falava em sala de aula: “Sempre quando Deus quer te falar algo, através das Escrituras, a passagem ou versículo bíblico fica parecendo uma placa em néon.”
Neste caso a passagem é: “ Essa enfermidade não terminará em morte; mas sim, para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela.” (vv 4)
O que impedia Jesus de - onde estava - curar Lázaro? Ou ter ido, imediatamente, realizar a cura, uma vez que o doente era seu amigo?
Muitas vezes, não entendemos o porquê de certas coisas acontecerem conosco. Geralmente isto ocorre quando estamos passando por algum problema, fazemos uma análise da situação e percebemos que perante a lei humana tudo coopera para que tenhamos êxito. Oramos a Deus e ‘pedimos para dar uma mãozinha’. Então, há uma reviravolta de 180° e a única coisa que pensamos é: “Poxa! Tudo estava encaminhando tão certo, o que foi que deu errado?”
O princípio da resposta está na pergunta: Quem é Deus para nós? Qual o seu papel em nossas vidas? Ele é a causa primeira ou ... apenas um ajudador?
Quando Deus é causa primeira, tudo gira em torno dEle. Nossa história deve ser escrita e dirigida pelo Criador da Vida. Não vivemos mais para si, vivemos para fazer a Sua vontade. Nossa verdade deve ser a mesma do salmista: “Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; assim, por amor do teu nome, guia-me e encaminha-me.” (Sl 31:3).
Contudo, esquecemos deste princípio. As decisões são tomadas conforme nosso entendimento e visão (limitada, diga-se de passagem). Deus é apenas um ‘ajudador’. Traçamos nossos próprios caminhos, armamos nossas próprias estratégias, então ‘oramos’ pedindo a Deus que vá a frente.
Mas, faz-se necessário que o nome dEle seja glorificado. Nosso Deus é um Deus do impossível. Ele não ‘coopera’ com as determinações do homem, Nem tão pouco dá uma ‘maõzinha’ para aquilo que acreditamos ser bom para nós.
“Tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus, SEGUNDO a Sua vontade”(Rm 8:28). O princípio está na vontade do EU SOU. È Deus quem determina. Ele – sendo Pai - é quem sabe o que é bom para nós, e ao contrário do que muitas vezes imaginamos, NÃO precisamos dar nenhuma ‘mãozinha’. Ele FAZ, simplesmente.O homem e suas leis - devido à misericórdia divina e quando assim O deseja - apenas coopera para que sejam realizados os Seus propósitos.
Quando estamos no Caminho visualizamos os trilhos, que é a certeza - para nós - de estar em comunhão com o Pai, porém, há aspectos ou momentos em nossas vidas que descarrilamos e não percebemos, pois não basta apenas visualizar, é preciso está engatado. Os trilhos não seguem o maquinista. O maquinista é que tem que está bem atento para seguir os trilhos.
O Deus do impossível permite sentir a dor da morte (morte dos sonhos, projetos, idealizações, etc.) para crermos que não há leis humanas nem tempo expirados, que não os possa reavivar, com a finalidade de ressuscitar a fé genuína em Jesus Cristo, glorificando-o, a fim de que nossa verdade seja a mesma dita e vivida por João Batista: “Um homem não pode receber coisa alguma, a não ser que lhe tenha sido dada do céu.” (Jo 3:27)
Minha Oração
Deus te peço: Seja Tu a coluna da minha vida, Sendo sombra ao dia e luz a noite. Para que possas Guiar o meu caminhar, Guardar o meu deitar, e Falar quando do meu acordar. Em nome de Jesus. Amém!
Joseane Pires>
< 24/06/2007

AMANDO A PARTIR DA ETERNIDADE

Senhores passageiros, apertem o cinto....
Não, isto não é aquela famosa frase que termina em brincadeira, é a realidade vivida todos os dias, por aqueles que viajam de avião. Ao escutá-la alguns dias atrás o que me chamou a atenção não foi o seu conteúdo, mais sim a colocação vinda de uma criança de apenas 3 anos de idade: - Mamãe, eu não sou passageira! Sou criança!
Esta simples colocação nos fez (eu e minhas amigas) refletir quanto à identidade perdida após alcançamos a famosa maioridade ou - porque não ir mais longe - quando perdemos a ingenuidade peculiar da criança.
É nos dado um nome e um número, somos classificados por grupos étnicos, escolaridade, afinidades, etc. perdemos a nossa individualidade e passamos a ser produto do meio.
E ao me descobrir produto, minha percepção de eternidade mudou, ou melhor dizendo: Deus a mudou; pois foi entendida e compreendida no espiritual, “... o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”( I Cor 2:14)
São as sensações que definem as palavras, e não o contrário. Como podemos saber a diferença entre doce e mel, amargo e meio-amargo, sem antes não experimentá-las? A diferença de sabores só passa a ser compreendida pelas palavras após a sua degustação.
Jesus está todo tempo afirmando: Deus é ESPÍRITO, precisamos adorá-lo em espírito e em verdade. Compreender o Reino de Deus é viver, sentir, deixar-se levar por sentimentos que invadem a alma, e que transmutam em choros-alegrias, prantos-risos.
O racional nos mantêm em uma zona de conforto. É algo palpável, confiável. Contudo, Deus não só habita no raciocínio, Ele se instala, também, no irracional, na entrega total.
Antes eu o conhecia de ouvir falar... agora o conheço de comigo andar.
Foi assim também com o cego de Jericó (Lc 18:35). Antes Jesus era: Filho de Davi, o Messias prometido que fazia milagres e pródigos. Tudo ainda estava no racional, porém, após ter ‘querido’ ser curado da sua cegueira reconheceu em Jesus: o DEUS ALTÍSSIMO. É por isto que Deus têm-nos chamado para senti-lo, entendê-lo, vivê-lo, experiênciá-lo.
E nesta simbiose espiritual, percebendo-O presente em meu ser, vendo-me sem as máscaras, reagindo ao meio não conforme Sua herança e sim conforme o efeito advindo da causa de se ‘estar’ pecadora, uma pergunta se fez em mim: O que faz Jesus nos amar apesar de ser quem somos? O que faz Jesus perdoar o homicida, o estuprador, o seqüestrador, o terrorista, o mentiroso, o blasfemador, o caluniador, o vingativo, o prostituto, o idolatra, o lascívio, o avarento, o impuro ... eu?
Seguindo apenas um raciocínio ‘lógico’ teria a resposta em um salmo (103:17): “A misericórdia do SENHOR é desde a eternidade e até a eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos filhos”.
Contudo, não dá mais pra viver apenas de lógica, faz-se necessário internalizar a Palavra, comer o Pão da Vida, degustar, digerir para finalmente se transformar em alimento do espírito. Em outras palavras é gastar tempo com a alma calada, aguardando Sua revelação.
E a revelação aconteceu no derramar do coração de Deus em meu coração. Foi algo tão grande, tão intenso que no momento tive medo e disse: Jesus, não conseguirei suportar! Tola impressão, pois o Pai nunca nos dá nada que não possamos agüentar. Mas fiz a besteira, e Deus recolheu a sua mão naquele momento sublime, porque tudo que vier dEle deve nos ser aceito por amor e não por sacrifício. Contudo, arrependida continuei pedindo o que me foi revelado, agora paulatinamente.
Percebi-me sentindo que a nossa essência é única, fomos criados na eternidade. Contudo, o que FOMOS ainda É e sempre SERÁ: semente divina. Estamos vivendo, momentaneamente, o ESTAR. Nossas reações e atitudes são respostas a um produto do meio: semente da queda.
Enquanto a semente divina mantém-se intacta aguardando nosso consentimento para sua germinação (“Mas todos quantos O RECEBERAM, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, ou seja, aos que crêem no seu nome”. – Jo 1:12), a semente da queda germina e crescer sem nossa autorização, violentando nossa individualidade.
O ESTAR é produto de traumas vividos no ontem ou no hoje, é o joio dos sentimentos corrompendo os atributos divinos doados por Deus através da sua maravilhosa graça. Adquirimos uma aparência camaleônica, transformando-nos em produto do meio.
Todavia, Deus sendo atemporal, nos conhece e nos ama pela essência – sua semente. Somos criação divina e “ viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1:31 a). A temporariedade de nossa transformação só será definitiva caso não queiramos reatar o elo perdido devido à queda.
Obtive a minha resposta: Jesus nos ama apesar de sermos quem somos, porque verdadeiramente NÃO SOMOS, APENAS ESTAMOS. Ele ama a essência e não a manipulação do produto. E com esta descoberta percebi um novo-velho conceito de amor, pois, embora Deus ame o indivíduo, sua revelação deverá sempre atingir o coletivo, portanto:
Minha oração hoje é:
Deus, derrama teu coração no meu coração, Para que possa ver o outro não como um produto, Mas, como essência divina, a fim de que possa abraçá-lo e amá-lo, do mesmo modo que Jesus me tem amado: desde a eternidade. Amém!

Joseane Pires
16/06/2007

A ÚLTIMA DOR CHORADA

Hoje, ainda estou sob o efeito de tudo o que ocorreu comigo, é algo que não quero deixar passar. Estou entre caminhar pela casa, beijar os que amo e voltar ao meu quarto, me internalizar dentro dos meus sentimentos e percepções vividos neste final de semana. O que fui era, hoje sou o que sou, Joseane completa. O passado foi apagado. Um passado longe e um não tão distante.
A Joseane-menina, finalmente, pode descansar em paz. Foi compreendida, amada... perdoada. A Joseane-mulher pode agora caminhar, sem ter mais receio de não ser amada. Cresci, não na aparência, mas nos sentimentos, percepções e doações.
E nesta libertação da alma, me vejo retratada na dor de tantas outras Joseanes-meninas, que sem ainda saber o porquê, sofrem da agressão sofrida na consciência-alma.
Na ilusão de ser levada ali naquele Encontro pelo Pai para apenas aprender um pouco mais, defrontei-me com o real motivo da minha caminhada: cura da alma.
Como um cego pode guiar outros cegos? Como posso saber da dor do outro, se não enxergava a minha própria dor? Como entender reações alheias se não compreendia a dimensão das minhas verdadeiras reações.
A ponta do iceberg mostrava pré-conceito, abaixo do perceptível existia a dor não compreendida, o santuário violentado, a rejeição por quem deveria ser amada.
A dor era como um câncer, imperceptível, mas que aos poucos corrompia a alma, o corpo, a identidade. A descoberta da doença foi impactante. Doente eu? E isto doeu, mas ainda era apenas o começo, pois o diagnóstico mostrava que o mal já havia se alastrado. Só havia uma alternativa: continuar vivendo o auto-engano, mentindo a si mesma, deixando a doença explodir no tempo devido, com o fim rápido e certeiro, mas escondido dos olhos alheios, ou... se submeter ao um processo tão mais violento e dolorido para a cura e iniciar a quimioterapia.
A doença-descoberta-escondida nos dá a garantia de viver na zona de conforto, é nós-e-ela e ela-em-nós, mas a doença-descoberta-em-busca–da-cura nos desnuda, perante os outros e principalmente perante nós mesmos.
A quimioterapia do corpo faz o cabelo cair, a pele amarelar, os olhos perderem o brilho. A quimioterapia da alma faz verdades caírem, certezas amarelar, e olhos se entristecerem perante um desnudar. Mas ao contrário da quimioterapia do corpo em que há um médico responsável diagnosticando quantas sessões de cada vez o corpo pode agüentar, sem saber se depois de tudo o corpo reagirá, na quimioterapia da alma temos a Jesus, que junto a cada dose necessária ministra junto a certeza da cura, a esperança de um novo caminhar, onde verdades-verdadeiras serão restauradas, certezas serão agora centradas apenas em saber do Seu amor incondicional, deixando de existir os pré-conceitos, os pré-julgamentos, e os olhos terão não apenas a dimensão do humano mais a visão espiritual da eternidade.
A cura foi em mim instalada, o que na medicina humana poderia levar meses, aconteceu em apenas uma noite que varou a madrugada, e tudo a partir de uma pergunta sugerida por Caio: Porque estou aqui? E seguida de um pedido meu: Deus, derruba meus pré-conceitos.
Foi assim que me convertir ao verdadeiro Evangelho em 2003, quando antes a minha verdade era o espiritismo. Foi assim no Encontro das Estações, mas com uma grande diferença: não levei verdades, não criei expectativas, estava apenas obedecendo a Deus, aberta ao seu chamado, levada pelo Espírito.
E depois de curada a alma, de ser liberta do trauma-passado, chorei o último choro da dor, pois meu peito explodiu me libertando da opressão imposta pelos homens, do cabestro espiritual vivido neste últimos três anos. Tanto sofrimento em vão, tantos choros derramados no tempo do seminário por não ver o possível-possível uma vez que a realidade imposta a nós mulheres era o possível-impossível. Na época me apegava a esperança de saber que Deus-Pai não dar o querer sem que faça o realizar, quando em meio aos choros e a dor que dilacerava a alma, me fazia continuar.
Vivia na ilusão da permissão humana para utilizar os talentos dados por Deus, até que o Espírito me visitou e me levou a caminhar por um terreno totalmente contrário do que cria. Tive medo, mas confiei e segui.
Hoje entendo, não só de pronunciar mais de vivenciar o que é ser liberta do cativeiro. Tenho a consciência de ser Joseane, apenas Joseane sem títulos, sem amarras, mas amada e escolhida pelo Pai.
Chorei o último choro da dor, da libertação da castração. Duas páginas do meu passado foram viradas. Outras verdades estão sendo trabalhadas, outros choros com certezas serão chorados, senão não seria eu, assim diz minha amiga-pastora-irmã Gláucia.
Deixo apenas o vento soprar. Este final de semana Ele soprou em Brasília, amanhã só Deus o saberá.
Joseane Pires. 12/06/2007