E O COMÉRCIO CONTINUA...

“E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo,
passou a expulsar os que ali vendiam e comprava;
também derribou as mesas dos cambistas e as
cadeiras dos que vendiam pombas.
E disse: Está escrito:
A minha casa será chamada casa de oração;
vós, porém, a transformais em covil de salteadores”
Mt 21:12-13

A primeira impressão que o texto nos causa é perguntar: por que Jesus agiu daquela forma? Uma vez que tal comércio se destinava a vender apenas animais e produtos que seriam utilizados tanto para o sacrifício como para as ofertas do templo. Porém, conforme aprendi em um sermão, nem tudo que parece é. É isto mesmo, por trás da aparência ingênua de se estar colaborando para o cumprimento da lei, existia um quartel monopolizando o comércio santo.

Veremos, portanto, como isso de dava: O OBJETO DE COBIÇA Existe três grandes festas de peregrinação, em que todo Israel deverá levar sacrifícios ao Senhor, agradecidos pela liberdade de seu povo, são elas: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos (ou festas das tendas). Devido aos períodos de colheita, as duas últimas festas são menos freqüentadas, enquanto que na Páscoa estima-se um fluxo de 180 mil peregrinos, para um população local de +/- 40 mil habitantes. Existem, também, outras festas como Yom Kipur ou Dia das Expiações, que é um dia de tristeza e de jejum, no qual o povo pede que Deus apague todas as faltas de seu povo; Rosh Hashana que é a festa do Ano Novo e a festa da Dedicação ou Hanuká que celebra o aniversário da purificação do Templo. O MONOPÓLIO Dois motivos levavam os peregrinos, quase que obrigados, a comprarem as ofertas no Templo: Primeiro, os animais sacrificados deveriam seguir uma regra de pureza. Segundo, os outros produtos utilizados são importados, como por exemplo: o cedro (madeira) do Líbano, o incenso e o aroma para os perfumes da Arábia, uma vez que tais produtos são únicos dignos do Senhor. Vale ressaltar que além destas obrigações os peregrinos deveriam gastar, também, seu segundo dízimo ( Dt 12:17-18) em regozijo diante de Deus. Os preços cobrados eram exorbitantes, por isso Jesus acusa-os de terem transformado o Templo em covil de salteadores (Mc 11:17) O PODER Neste panorama dá para ter uma idéia do fluxo de dinheiro que circulava tanto dentro quanto fora do Templo. Mas o que nos interessa é o que ocorria dentro do Templo, pois este comércio havia se tornado uma fonte de renda para o sumo sacerdote, através do controle de sua família ou por grandes comerciantes, que oferecem propinas para participarem deste comércio. Como a indústria do couro assegurava um bom lucro, estima-se cerca de 18.000 cordeiro para o rito pascal, dezenas de milhares de sacrifícios de comunhão em cada festa, e os sacrifícios de expiação particulares (centenas por dia), o sumo sacerdote, se apropriava pela força, das peles destes animais degolados que deveriam pertencer aos sacerdotes. Restando para estes apenas a divisão do dízimo (vale ressaltar que devidos aos altos impostos certo número de Judeus não conseguiam pagá-los) e a parte retirada dos sacrifícios (cinco semanas por ano - pois os sacerdotes devido ao grande número – 7 mil mais ou menos- eram divididos em 24 equipes, trabalhando em revezamento uma semana de cada vez) .

Além de tudo isto encontraremos o nepotismo, pois o sumo sacerdote nomeia membros de sua família ou amigos para o auxiliar em suas funções. Estas vagas são chamadas de chefes dos sacerdotes: O comandante do Templo, que pode substitui o sumo sacerdote em ocasiões especiais, os chefes das vinte e quatro secções semanais, os sete vigilantes do Templo e os três tesoureiros.

Tudo isto nos constrange, como aqueles que deveriam ser os representantes de Deus puderam desviar-se tanto do caminho? Porém, não nos iludamos, pois caso Jesus entrasse, hoje, em alguns templos evangélicos, encontraria a mesma situação. O OBJETO DE COBIÇA A igreja evangélica, hoje, é notoriamente crescente. É quase que impossível alguém adentrar em qualquer ambiente e não encontrar ali um representante desta religião em ascensão. Não estou enumerando aqui pessoas por seus procedimentos cristãos, que não dá para perceber em uma única olhadela, mas apenas pelas “uniformização” que virou moda. Infelizmente, por vivemos uma grande crise, tanto financeira quanto familiar, homens e mulheres sofridos, esmagados por uma sociedade discriminatória, vivendo muito aquém do básico da dignidade, buscam realizar os seus sonhos de viverem um mundo melhor, onde possam ser acolhidos, ouvidos e finalmente amados. O MONOPÓLIO Alguns prometem realizar estes sonhos, pregam a fartura, a saúde, o fim dos confrontos matrimonias e familiares, a realização dos seus sonhos de consumo. Mais tem que se pagar o preço, nada é de graça. Tem quer participar de tal corrente, tomar tantos banhos, utilizar certos talismãs, ungir com certo óleo santo, tudo comprado no templo, pois este assegura sua autenticidade, foram ungidos e benzidos por um sacerdote de Deus. Mas há também o monopólio da Palavra, o profeta direto do Altíssimo, aquele que usa o púlpito para pregar que a verdade só pertence a ele, carregando ( e incentivando) atrás de si uma legião de discípulos. Fecha-se o círculo para se ter o controle. O PODER Os cultos deixaram de ser cristocêntricos para serem egocêntricos, quem faz e acontece não é Deus, e sim aquele por quem deveria ser apenas o seu representante. Para se chegar ao poder usa-se Jesus apenas como o caminho, mais a verdade é outra e a vida é apenas o seu conforto material. Passa-se por cima de tudo e de todos para manter-se no topo.

O que se estão vendendo no Templo hoje? Tudo, inclusive a falsa modéstia, são os lobos disfarçados em cordeirinhos. Pregam a si mesmo, vendendo a imagem de um verdadeiro cristão, ora mansos, ora pacificadores. Sua humanidade quando exposta serve apenas para ressaltar sua máxima culpa, mostrando o quanto são humildes confessando-se a outros. Encontramos, também, na busca pelo poder, os escribas atuais, que como grandes conhecedores das Escrituras, são tidos como ungidos e destas forma se utilizam da Palavra, para tirar proveito próprio, mantendo um certos status dentre os demais. Precisamos estar atentos, pois tudo que está escrito acima é uma verdade, e é muito fácil identificá-la, porém um dos objetivos deste estudo é de trazer, também, á tona as nossas verdades, o que estarmos fazendo com o templo (corpo) que Jesus nos confiou? Por diversas vezes esquecemos de tirar as nossas traves, e o paralelismo é o mesmo:

a) identificamos em que ministério queremos atuar, não onde Jesus quer nos mandar, por sentirmos que ali seremos mais fortes (objeto);

b) pregamos as nossas verdades, o que acreditamos ser bom para nós e para os outros, e esquecendo da verdade de Cristo (monopólio);

c) nos crucificamos não para seguir Seu exemplo, mais para ser um exemplo a ser seguido (poder).

Oremos:

Senhor,

Que o Templo maior e o Templo menor,

que é nosso corpo, seja conforme está escrito:

Uma casa de oração, para que seja feita

apenas a vontade do Pai.

Amém!

Joseane Pires