TALENTOS X MEDO – QUEM VENCERÁ A BATALHA?

No Evangelho de Jesus segundo Mateus, entre os capítulos 24 e 25, encontramos uma série de parábolas exortando sobre a vinda de Cristo, e de como estamos nos portando para não sermos pegos de surpresa. Porém, dentre esta série, há uma que me tem chamado atenção: é a parábola dos talentos. Em particular, o terceiro servo, aquele que é tido pelo senhor como servo inútil, pois seu talento não lhe foi retirado por mau uso, como acontecera a Saul. Ele permaneceu com o talento até a volta do senhor.
Observe que todos os três servos receberam talentos de acordo com suas capacidades. O primeiro recebeu cinco talentos, o segundo recebeu dois talentos e o terceiro recebeu apenas um talento.
Os dois primeiros saíram a negociar com os banqueiros os bens que lhes foram confiados, porém o último por ter recebido apenas um talento tivera medo, e o enterrou. Por que ele tivera medo?
Porque ele não conhecia ao seu senhor. Tinha-o como homem severo, incapaz de amar, compreender e perdoar as falhas de um servo, que caso viesse a errar, estava apenas disposto a tão somente lhe agradar. Ele não conhecia o poder e soberania advindos da onisciência e onipotência, que era revestido seu senhor. Portanto, deixou-se levar por sua visão limitada de incapacidade, bloqueando a capacitação dada por aquele que diz: “ Não te mandei eu? Ser tão somente forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares” (Js 1:9) Através do seu desconhecimento da personalidade e grandeza do seu senhor podemos muito bem imaginar o raciocínio deste servo: os depositários precisavam negociar com os banqueiros a fim de duplicarem os talentos, e sabendo que toda transação bancária passa por situações de riscos, todos poderiam tanto ganhar quanto perder. Os outros dois primeiro, caso viessem perder algum talento, teriam como ainda apresentar - na vinda do seu senhor- algum saldo, porém, no seu caso correria o risco de perde a única moeda que lhe foi confiada. Há um ditado popular que diz: “quem tem dois tem um, e que tem um não tem nenhum”, nosso amigo poderia ter este mesmo pensamento.
Portanto, o fato dele não ter negociado seus talentos, poderia muito bem ter sido, não pelo fato de ser negligente, mas pelo excesso de zelo, devido a falta de intimidade e comunhão com o seu senhor, gerando no seu intimo três tipos de medo - desenvolvidos em separados ou em conjunto: medo de si mesmo, medo do homem, e/ou medo da imagem.
MEDO DE SI MESMO
Lendo novamente o texto: “ mas o que recebera um, saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor ... receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu” (vv. 18;25). O servo inútil enterrou o talento, não porque negligencia, mas por medo de fazer mau uso dele, subestimando seu poder de negociação e discernimento para investir. Não confiou em seu senhor, que a cada um deu segundo a sua capacidade.
Assim, também, ocorre conosco, muitas vezes recebemos dons de Deus e ficamos tão inseguros, achando que somos incapazes, que preferimos não utilizá-los.
Por exemplo, se o dom é de profecia, temos receio de falar e ser mal interpretado, ou até mesmo de não estar certos deixando de receber a cobertura divina. Imagine se quando o filho de Davi - Adonias usurpou o trono que seria de Salomão, os sacerdotes, e em especial Natã, ficasse receoso em procurar Bate-Seba, para a mesma ir ter uma audiência com o rei, a fim de convencê-lo de que deveria apoiar Salomão, conforme anteriormente havia prometido, em obediência as ordens divinas. O profeta Natã poderia muito bem pensar: não vou me meter, Davi já apoiou Adonias, até sacrifícios foram ofertados divulgado seu reinado entre todos os filhos do rei e todos os homens de Judá ( 1Rs cap.1). A coragem de Natã, em utilizar seu talento, falando aquilo que Deus ordenara, fez com que o Rei Davi voltasse atrás e reconhecesse que o trono deveria ser de Salomão, e não do seu irmão Adonias.
MEDO DO HOMEM
Por que o servo inútil não depositou seus bens nas mãos daqueles que poderiam duplicar? Encontramos duas respostas:
1) Uma vez resolvido investir, o servo precisaria expor e entregar os talentos aos banqueiros. E se estes homens fossem maus qual fim daria aos seus talentos?
2) Por achar que era de pouca soma, estes banqueiros poderiam não ter aceito o valor a ser investido.
Então, por que não investir ou duplicar seu talento de uma outra forma?
Muitas vezes, estamos escondendo os nossos talentos porque os homens não estão, ainda prontos para aceitarem, ou por não concordarem em termos estes dons. Para expô-los precisaremos ir de encontro aquilo que nos é proposto ou normatizado, e por medo de enfrentá-los preferimos esconder, dando assim mais atenção e importância aos que os homens pensam e dizem, do que o que Deus no diz ou manda fazer.
Outras vezes, por não valorizarem nossos talentos, taxando-os de insignificantes, temos vergonha de utilizá-los por medo de sermos ridicularizados.
Por fim, decidimos enterrá-los, assim não iremos de encontro ao que está posto.
MEDO DA IMAGEM
Se o servo tivesse de ir de encontro ao que era proposto: investir com os banqueiros; e realiza-se seu investimento de outra forma, isto poderia dar certo, mas também poderia acabar por perde seu único talento. Qual seria a sua imagem perante os outros servos, e o que o senhor pensaria dele, quando da sua volta?
Esquecido de que o senhor distribui os talentos apenas aqueles a quem ele reconhece a capacidade, o servo preocupou-se mais em ficar no anonimato do que em se expor e arriscar.
Assim, muita vezes pensamos nós: uma vez contrariando o que os homens pensam ou dizem, qual será a imagem que as pessoas terão ao meu respeito?
Vivemos comodamente uma vida pacata, sem muita exposição, aceitando tudo o que se é dito, mesmo se isto for de encontro a Palavra de Deus, pelo simples fato de não querer se arriscar e ser colocado a escanteio.
O servo inútil não quis fazer diferente dos seus amigos, teve medo da sua reputação.
Muitos passam por estes mesmos problemas. Deus nos tem confiado alguns talentos (dons), e devido a nossa estrutura psicológica desenvolvemos a síndrome do medo.
Então a pergunta é: O que estamos fazendo com nossos talentos?
a) Estão sendo enterrados por nos achar incapazes, desacreditando da capacitação de Deus?
b) Estão sendo enterrados para não contrariar o que está posto pelos homens, desprezando as ordens de Deus para nossa vida? ou
c) Estão sendo enterrados por medo de arriscar, manchado a imagem de obediente e pacato perante os homens, mesmo que a imagem diante de Deus esteja manchada?
O servo inútil, só veio a saber que fora inútil, quando da volta do seu senhor. Será que precisaremos esperar a vinda de Jesus para percebemos também a nossa inutilidade diante do Reino?
Minha oração (Sl 62:11-12)
Uma vez falou Deus,
Duas vezes ouvi isto:
Que o poder pertence a Deus,
E a ti, Senhor, pertence a graça,
Pois a cada um retribuis
Segundo as suas obras.
Amém
Joseane Pires