QUANDO NÓS SOMOS O SACRIFÍCIO

Há uma passagem bíblica, muita conhecida e explorada por aqueles que tentam exemplificar, através da palavra escrita ou falada, a confiança que devemos ter no Criador da Vida. Confiança esta, que deverá está acima, até mesmo, da nossa racionalidade. É a passagem em que Abraão leva seu filho Isaque para ser sacrificado, conforme orientação divina. (Gn cap 22).
É extremamente indiscutível o processo de obediência gradativa em que Abraão tem passado, durante todos aqueles anos de convivência com o Deus único. Desde sua saída da cidade natal Harã, até aquele momento – no qual pensa que - terá que sacrificar seu próprio filho - e filho da promessa vale ressaltar.
Porém, meus olhos se deparam nesta cena, não com o sacrificador, mas, com o suposto sacrificado: Isaque. Observe como ele é passivo, obediente. Sendo um rapaz, poderia voltar-se contra seu pai, usando a força viril - uma vez que seu genitor já estava bastante velho -, ao perceber que algo estava mal contado, quando da sua pergunta: onde está o animal para ser sacrificado? Ao invés disto deixa-se levar, chegando até ao ápice de ser amarrado e posto sobre o altar, em cima da lenha.
O que fez Isaque não se rebelar?
Encontramos a resposta em João 20:29b “Bem-aventurados os que não viram e creram.”
Observe que até aquele momento, Deus apenas se apresentara a Abraão. Era o Patriarca que tinha o contato direto. Isaque creu que Deus iria prover o cordeiro, não por ter visto ou ouvido a voz de Deus, mas porque seu pai, que tinha livre acesso, assim o disse.
E foi exatamente isto que Jesus nos quis ensinar, quando recriminou a Tomé, por sua incredulidade. Ocasionarão momentos em nossas vidas, que precisaremos crer nas palavras proferidas pelos profetas - homens e mulheres de Deus, postos aqui entre nós, para nos direcionar e relembrar as promessas feitas pelo Pai Maior. Cabe a nós apenas seguí-las sem medos ou temores, mesmo que isto vá de encontro ao nosso entendimento lógico.
Mas, ainda há um fator agravante: o fato de Abraão ter uma ligação direta com Deus, isto não exclui a possibilidade dele está enganado naquele momento, fazendo simplesmente algo contrário a vontade divina, pois assim o fizera por diversas vezes, como por exemplo: Ao deixar sua terra natal levando consigo - contrariando as ordens divinas – sua parentela; ou até mesmo quando coabitou com Agar, querendo agradar sua esposa, desacreditando na promessa de ter um filho gerado através de sua esposa estéril.
Então, existiu algo mais, para a aceitação passiva de Isaque, em ser o sacrificado. E esta resposta, nos remete a uma segunda lição: A de que Isaque era conhecedor da tradição oral. Deus havia estabelecido uma aliança entre seu pai Abraão e a sua descendência – a saber o próprio Isaque, para que através deles surgisse uma grande nação. O simples conhecimento dos fatos, deu ao garoto a certeza de que Deus iria provê o animal para o holocausto.
Hoje, temos como substituição da tradição oral a Bíblia Sagrada, e o conhecimento dela nos fazem ter a mesma tranqüilidade vivida pelo primogênito de Abraão. “ A revelação das tuas palavras esclarece e dá entendimento aos simples” (Sl 119:130).
Nem sempre lemos ou ouvimos palavras que venham a nos agradar, geralmente são ordenanças, aconselhamentos e orientações diretas do Pai Altissímo, através daqueles a quem Deus tem usado, a fim de que abdiquemos de nossas vaidades, orgulhos, auto-estima, conforto, etc., cujo único objetivo seja o cumprimento de Suas determinações em nossas vidas.
Isto, às vezes, é complicado, pois em determinadas situações - ou melhor dizendo, na maioria das situações -, quem será lembrado não será a figura de Isaque - neste caso a nossa - mas sim a de Abraão, ou trazendo para a leitura atual: Jesus Cristo.
Quando, em alguns casos, não há o contato imediato com o Alto, a familiaridade com as escrituras sagradas, nos dará a certeza de estar caminhando conforme a Sua Palavra.
Certa vez, passei por um processo parecido, e isto me fez crescer espiritualmente. Estava eu trabalhando em uma firma, para aumentar o rendimento familiar - passavamos nesta época por várias privações. Porém chegou em um deteminado momento que este trabalho extra estava comprometendo, não apenas minha relação familiar, mas também meu desempenho no Seminário Teológico (cursava o 2 ºperíodo), devido ao cansaço físico.
Ao procurar aconselhamento de um amigo-pastor, queixava-me de não está ouvindo diretamente de Deus uma orientação quanto ao que deveria fazer: continuar no emprego ou pedir demissão. Seu conselho foi-me decisivo, disse: Nem sempre Deus nos fala diretamente, mas temos uma regra de conduta (Bíblia Sagrada) deixada por Ele, para que possamos tomar nossas próprias decisões, como sinal de amadurecimento e crescimento. Então recorri a Palavra, e a mesma falou forte, sem deixar dúvidas: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mt 6:21). Meu tesouro estava no conhecimento da Palavra, através do seminário, e na assistência à minha família. No outro dia pedi demissão.
Esta passagem levanta um questionamento: Quando nós formos o sacrifício, teremos a mesma tranqüilidade e passividade de Isaque, decorrentes da confiança e certeza da promessa divina em nossas vidas?
Oremos
Senhor, ensina-me a ver além das aparências
Para que possa crer em tuas promessas,
Independente de tempo ou espaço geográfico.
Seja feita, sempre, a tua vontade sobre mim.
Amém.
Joseane Pires